Em busca do corpo perfeito, jovens e adultos – mesmo bem magros – insistem em perder peso. Esse quadro pode resultar em uma séria doença: a anorexia nervosa - transtorno psiquiátrico que costuma manifestar-se entre os 13 e os 18 anos.
“A portadora do distúrbio não reconhece sua imagem, se vê acima do peso e seu objetivo sempre é emagrecer, por mais que isso não corresponda à realidade”, explica Ana Luiza Camargo, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
Inocente dieta
Boa parte dos casos de anorexia começa com um período de simples dieta. “Com o tempo, a pessoa desenvolve um medo intenso de ficar obesa, passa a ter alteração da imagem corporal, investe numa significativa perda de peso e, por mais que seja encorajada a manter o peso normal, recusa-se persistentemente”, explica a psiquiatra.
Com a evolução do distúrbio, o número de calorias da dieta diminui cada vez mais. A energia mínima necessária para uma mulher de 58 quilos, por exemplo, é 1400 calorias/dia. Há relatos de garotas anoréxicas que consomem apenas 300 calorias ao dia, provenientes de alface e tomates.
O distúrbio pode manifestar-se de duas formas:
evitando, tanto quanto possível, a ingestão de alimentos e, quando ingeridos, a quantidade é pequena;
alimentando-se em pequenas quantidades e depois provocando vômito ou utilizar laxativos e diuréticos para eliminar as calorias consumidas.
A anorexia pode manifestar-se com sintomas que se sobrepõem aos da bulimia, outro transtorno psiquiátrico, caracterizado por episódios de consumo rápido e descontrolado de grandes quantidades de alimentos, seguidos de vômitos autoprovocados ou uso de laxativos e diuréticos. “As bulímicas chegam a consumir 1000 calorias nos episódios de descontrole”, afirma a médica.
Tanto anorexia quanto bulimia podem estar associadas a quadros de depressão e transtorno obsessivo compulsivo (TOC), por exemplo. As meninas que desenvolvem esses problemas são muitas vezes as melhores e mais brilhantes em suas turmas. Segundo a dra. Ana Luiza, muitas foram crianças-modelo, perfeccionistas, compulsivas, cuidadosas e pacificadoras.
“Essas meninas são rígidas na incorporação das regras paternas e, muitas vezes, têm a convicção privada de que não são valorizadas por todos os seus esforços neste sentido”, explica a psiquiatra.
Raiz do problema
Uma pesquisa realizada na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e publicada em março de 2006 na revista científica Archives of General Psychiatry, sinaliza grande possibilidade de a anorexia estar relacionada à questão genética.
A população estudada foi de gêmeos fraternos e idênticos – ou seja, os que têm as mesmas características genéticas. A anorexia prevaleceu nos idênticos e, a partir das análises estatísticas, os cientistas concluíram que 56% da tendência de desenvolver o distúrbio está relacionada à genética.
“As famílias das pacientes anoréxicas geralmente apresentam preocupação com o corpo e experiência de dieta e fitness. É comum encontrar sintomas de anorexia em mães e irmãs dessas pacientes”, comenta a psiquiatra do HIAE sobre a questão genética.
Mas o estudo não refuta a possibilidade de que o distúrbio seja ocasionado por motivos diversos. Situações estressantes - como mudança de cidade, divórcio e falecimento em família - podem anteceder seu aparecimento.
Sinais de alerta
“O comportamento anoréxico é um pedido de ajuda e atenção que deve ser ouvido”, avisa a psiquiatra. Esse pedido é feito, muitas vezes, de forma inconsciente, porque o objetivo é sempre o de emagrecer, fazendo dietas e se excedendo nos exercícios físicos.
Alguns comportamentos devem ser observados pelos pais. Eles podem ser sinais de alerta emitidos pelos filhos:
Demonstram imagem distorcida de si próprios e insistem em dizer
que estão gordos;
Têm preocupação excessiva com dietas e calorias dos alimentos;
Evitam situações sociais que envolvam alimentação;
Comem devagar, espalham os alimentos no prato, dando a sensação
de que comem muito;
Quanto menos comem, mais se satisfazem em ver os outros comer.
Tratamento complexo
A anorexia é um transtorno que ainda desafia a medicina. A taxa de mortalidade é a maior entre os transtornos psiquiátricos: ente 5% e 18%. O tratamento é complexo e não garante a cura.
Na adolescência, alguns casos de anorexia podem ser considerados episódios isolados, desde que descobertos precocemente. São então tratados, com retorno ao peso normal e boas chances de que o comportamento não volte a se repetir.
O tratamento ideal envolve uma equipe multidisciplinar, composta por psiquiatras, psicólogos, endocrinologistas e nutricionistas. Para começar é preciso tratar as complicações orgânicas decorrentes do baixo peso, como a anemia. O próximo passo é a terapia.
“Na terapia é possível redefinir as relações interpessoais, aumentar a auto-estima e deixar a pessoa menos preocupada com sua forma e com seu peso”, explica a psiquiatra.
Com taxa de recaída em torno de 60%, a relação complicada com a comida pode persistir por meses ou até anos. “O padrão mais comum em pacientes que possuem anorexia por mais de três anos é a manutenção de algum sintoma do comportamento anoréxico, mas muitas vezes sem haver comprometimento importante da saúde”, afirma a dra. Ana Luiza.
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