Um quinto das crianças com menos de cinco anos internadas em hospitais ligados a universidades perdem peso em sete dias. Isso é o que revela o primeiro estudo brasileiro sobre a prevalência de desnutrição infantil nessas instituições.
O estudo, conduzido por um grupo de trabalho que incluiu profissionais de várias instituições, como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Pan-Americana da Saúde, foi publicado na última edição do "Jornal de Pediatria".
Encerrada em 2007, a pesquisa avaliou dez hospitais universitários em nove capitais. Foram incluídas todas as crianças admitidas nas instituições durante três meses, totalizando quase mil pacientes.
"Esses dados ainda refletem a realidade, pois não houve ações específicas para corrigir o problema e não há motivos para achar que algo mudou", diz Roseli Sarni, presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma das autoras do trabalho.
Os pesquisadores constataram que 20% das crianças perderam mais do que 2% do peso corporal durante uma semana no hospital. "Esse valor é extremamente preocupante e pode colocá-las em risco nutricional", afirma Sarni.
A chance de perder peso durante uma internação é grande, pois o paciente já chega debilitado pela doença, muitas vezes tem falta de apetite e precisa ficar em jejum para passar por exames e procedimentos.
"Não deveria haver perda de peso e esse é o foco de nosso trabalho", explica José Spolidoro, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral. Para evitar o problema, há vários recursos, como terapia via oral, com suplementos especiais, ou até, em alguns casos, nutrição por sonda.
"Muitas vezes os médicos ficam focados em tratar a doença e se esquecem da questão nutricional", diz Spolidoro.
Embora todos os hospitais tenham equipes de terapia nutricional, apenas 7% dos pacientes foram submetidos à terapia adequada, seguindo padrões preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo próprio Ministério da Saúde. Normalmente, cerca de 20% dos pacientes internados precisam desse tipo de intervenção.
"Não há educação dos profissionais de saúde para esse diagnóstico nem acompanhamento", diz o nutrólogo Celso Cukier, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, que coordena equipes de terapia nutricional em hospitais como São Luiz, Hospital do Coração e Dante Pazzanese, em São Paulo.
Uma das causas da má nutrição nos hospitais pesquisados foi o uso de leite de vaca integral em bebês, em substituição às fórmulas ou ao leite materno: 36% dos menores de seis meses e 67,8% das crianças entre seis e 12 meses ingeriam esse alimento, inadequado para essa faixa etária por conter proteínas e sódio que podem levar à desidratação.
Falta de diagnóstico
Outro problema constatado pela pesquisa foi que poucos hospitais avaliaram, de forma rotineira, peso e estatura das crianças admitidas. Apenas 56,7% delas tinham classificação do estado nutricional registrada em prontuário.
A avaliação dos pesquisadores constatou que 16,3% das crianças monitoradas chegou com desnutrição moderada ou grave ao hospital. No entanto, nenhuma delas foi internada por causa da desnutrição. A maioria procurou o serviço com pneumonia ou diarreia.
Segundo Sarni, falta treinamento dos profissionais, tanto dos médicos como das equipes de nutrição, e, em alguns casos, até mesmo equipamentos básicos como réguas e balanças.
O Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição.
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