Nell Burger Kirst é estudante do quarto ano de medicina.
Ele escreveu sobre história que viveu para o "New York Times".
Nunca cheguei a conhecê-la de verdade. Encontrei-a pela primeira vez durante meu terceiro ano de psiquiatria, quando nossa equipe era consultada sobre problemas de depressão.
Regras de privacidade não permitirão que eu use seu nome (onde foi possível, consegui consentimento dos outros envolvidos nesta história). Ela era um doente terminal, não só pela doença, mas também por todas as complicações de seu tratamento, e estava confinada à cama na unidade de tratamento intensivo.
Quando a conheci, ela mal podia falar. Seu rosto era uma vazia lua amarelada, e seu cabelo, esparso e descolorado, se espalhava ensopado de suor por seu travesseiro.
O que vim a saber dela foi através de seu namorado, Josh. Eles estavam juntos desde o ginásio, e continuavam juntos mesmo enquanto o resto da vida dela desmoronava.
Quando a tensa relação dela com seus pais se tornou impossível e eles saíram de sua vida, Josh se tornou seu confidente e melhor amigo. Quando soube que estava seriamente doente, ela e Josh preencheram a papelada necessária para conferir a ele o poder de representante legal.
Então, ele se sentou ao lado de sua cama, dia após dia, ocasionalmente levantando-se de seu posto para realizar a manutenção rudimentar que ela já não podia: enxugar as lágrimas dos próprios olhos e limpar as secreções em volta de sua boca.
Em sua ficha médica, ele era descrito não como "namorado", mas como "família" ou simplesmente "Josh", e sua presença nesses registros traça grande parte da agonizante marcha da doença dela.
Quando ela sofre uma piora: "Josh acha que (a paciente) ainda está lutando e gostaria de continuar com o tratamento."
Quando sistemas de órgãos começam a falhar: "A família irá rever status amanhã."
E, finalmente, quando o atendimento médico de apoio é retirado: "Josh entende que (ela) está morrendo. Ele está lutando para imaginar um futuro sem ela."
Cinco meses depois, na quietude do inverno, um homem de 25 anos chamado David estava trocando um pneu furado na lateral da estrada quando foi atingido por uma van. Ele chegou à UTI num respirador, apresentando fraturas múltiplas. Eu havia aterrissado ali apenas alguns dias antes, em minha habilidade de estudante de medicina, e o teria como meu paciente por muitas semanas à frente.
O homem logo se tornou medicamente estável o bastante para ser transferido a um andar geral do hospital, mas apresentava significativos problemas comportamentais que exigiam um acompanhante o tempo todo a seu lado. Ele rotineiramente removia seu tubo de alimentação, se recusava a trabalhar com os terapeutas, não queria usar o urinol. Era provocador e difícil de lidar, estava sabotando sua própria recuperação.
Carta manhã, conversei com a enfermeira sobre seu progresso. Seu tubo de alimentação estava no lugar ininterruptamente por 30 horas. Ele havia começado a cooperar na fisioterapia, e estava usando o urinol sem reclamações.
A mãe de David surgiu no saguão para confirmar sua melhora. Parecia ter muito a ver com o acompanhante que havia sido designado a ele nos últimos dois dias.
O acompanhante, segundo ela, era extremamente paciente, apoiador e animado, ouvindo as histórias de David e compartilhando suas próprias. Ele era alguém com quem David podia se relacionar, um encaixe perfeito para ele. Acenei afirmativamente com a cabeça, confiante, e entrei no quarto.
Lá estava David, sentado em sua cama de hospital, animado e brincando com seu acompanhante. O clima pesado e tedioso que ocupava o quarto de David havia se tornado leve, e isso acontecera tão rapidamente que eu não conseguia recuperar o fôlego.
Seu acompanhante era Josh.
Ele havia assumido um emprego no hospital, após a morte de sua namorada. Sua história, como comecei a perceber, era um tipo de história de amor, e de alguma maneira evocava todas as nossas histórias, sejamos médicos ou pacientes, confortadores ou confortados, curandeiros ou curados. Josh reafirmou para mim o que nós, profissionais da medicina, sabemos, mas esquecemos com tanta facilidade: a história humana não é uma série de doenças e tratamentos que administramos, e sim um mistério sendo descoberto – um processo com o qual nós mesmos estamos em constante comunhão, seja como testemunhas, seja como participantes.
Ali, estabelecendo-nos em nosso lugar na história, podemos vê-la em sua totalidade e deixar que ela nos faça completos. Tomamos parte em sua cura enquanto ela se revela, e somos curados por sua descoberta.
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