As mulheres que desenvolvem hipertensão durante a gravidez devem passar por uma avaliação seis meses após o parto. A recomendação consta das novas diretrizes sobre cardiopatia na gravidez, que acabam de ser elaboradas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A orientação se baseia em pesquisas que mostram que mulheres com pré-eclâmpsia (uma das complicações hipertensivas da gestação, que pode levar ao parto prematuro e à morte da mãe) têm um risco quatro vezes maior de desenvolver hipertensão arterial crônica e quase duas vezes mais chance de ter doença arterial coronariana, derrame e tromboembolismo venoso num intervalo de até 14 anos após a gestação. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o problema terminava com o parto.
"A maioria dos cardiologistas e dos obstetras ainda desconhece que essa complicação gestacional aumenta o risco de doença cardiovascular precoce nessas mulheres", diz a cardiologista Citânia Tedoldi, editora das novas diretrizes. "A hipertensão na gravidez pode induzir alterações a longo prazo que estão associadas ao aumento desse risco", explica.
Por isso, esse grupo de pacientes deve ter seu perfil de risco cardiovascular avaliado, incluindo seus hábitos de vida, seis meses depois do parto e começar a adotar medidas preventivas o quanto antes.
"O acompanhamento deve ser não só no pós-parto como ao longo da vida da mulher, com exames rastreadores e diagnóstico dos distúrbios hipertensivos", diz o ginecologista Denis Nascimento, da Universidade Federal do Paraná.
"Essas mulheres precisam adotar mudanças no estilo de vida recomendadas aos hipertensos, como controle do consumo de sal e do peso e adoção da prática de atividade física moderada, como caminhada", acrescenta o cardiologista Ivan Cordovil, chefe do Departamento de Hipertensão do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro.
Ainda não se sabe o que desencadeia as complicações hipertensivas na gravidez em mulheres saudáveis. Algumas apresentam somente elevação da pressão.
Já a pré-eclâmpsia é uma complicação grave, que traz risco de morte à mulher. Além da hipertensão, ocorre perda de proteínas na urina e inchaço.
O risco de pré-eclâmpsia é maior na primeira gestação, em obesas, nas diabéticas e em quem tem história familiar.
O documento com as novas diretrizes, que deve ser publicado em breve, também traz uma atualização completa de todos os aspectos da cardiologia na mulher. "Queremos orientar sobre os tratamentos mais adequados de acordo com as últimas evidências científicas", diz Tedoldi.
As doenças do coração são consideradas a maior causa de morte materna indireta -ou seja, aquelas que não são provocadas por causas obstétricas, como hemorragias e infecções.
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