Grávidas de múltiplos têm 43% mais risco de sofrer de depressão pós-parto, diz um estudo publicado na edição de abril da "Pediatrics", revista da Academia Americana de Pediatria. Foram avaliados dados de 8.069 americanas, excluindo variáveis como características socioeconômicas e demográficas, que podem influenciar na incidência do transtorno.
Ainda não se conhecem os mecanismos neurológicos e hormonais que levariam a esse maior risco, mas o estresse causado pela responsabilidade de cuidar de vários bebês ao mesmo tempo foi apontado como a causa primária pelos pesquisadores. Sabe-se que o estresse é um dos principais gatilhos para a depressão feminina.
"Toda gestação de múltiplos é uma gestação mais complexa, pois os bebês podem nascer prematuros e exigir mais cuidados. Isso causa uma ansiedade muito grande", afirma Joel Rennó Jr., diretor do programa de saúde mental da mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
A prematuridade é um fator de risco para depressão, pois o bebê requer cuidados especiais e, dependendo de sua maturidade, tem mais chances de sequelas ou morte, o que torna a mãe mais vulnerável e ansiosa. E, no caso de gravidez múltipla, os riscos de antecipação do parto são maiores.
Apesar de não ser definido seu mecanismo de ação, outro fator já relacionado à depressão pós-parto é a cesariana, que ocorre frequentemente em gestações de mais de um bebê.
A gestação de múltiplos se tornou mais frequente com o aumento da busca por reprodução assistida. Segundo dados do Ministério da Saúde, ocorrem no Brasil em média 55 mil gravidezes de múltiplos por ano.
O processo da fertilização in vitro também é associado ao maior risco de depressão. As altas doses de hormônios podem alterar o humor, e as expectativas com o tratamento geram ansiedade. "Nesse caso, antes da concepção o quadro de estresse já é elevado e, mesmo com a boa notícia da gravidez, há todas as preocupações pertinentes, como risco de aborto, e as expectativas", diz Rennó.
Sintomas
A depressão pós-parto atinge de 15% a 20% das mulheres de países em desenvolvimento, caso do Brasil, e deve ser tratada precocemente. A gestante deve estar atenta às mudanças de comportamento durante a gravidez, que podem ser indicativos de que algo não vai bem.
"Compete a nós, obstetras, fazer um trabalho preventivo, para evitar que aquela tristeza materna se transforme em algo mais sério", afirma o ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum, do Hospital São Luiz, em São Paulo. Além da depressão, um quadro suspeito pode evoluir para ansiedade, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo.
Embora especialistas relatem que as mulheres geralmente se sentem cansadas, mais sensíveis e melancólicas após o parto, é preciso observar se alguns sinais se repetem com frequência, por mais de duas semanas, e comunicar o ginecologista caso haja dúvidas. "Os pacientes não querem falar em psiquiatra. Há gestações bastante complicadas do ponto de vista psicológico, mas as pessoas não querem passar a ideia de que a gravidez pode ser algo patológico. É preciso estar preparado para uma intervenção precoce", acrescenta Rennó.
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