O Inca (Instituto Nacional de Câncer) implanta a partir de abril um sistema que pretende melhorar a qualidade das mamografias feitas no SUS. Dados do próprio instituto indicam que até 70% dos exames feitos nos serviços credenciados pelo Ministério da Saúde têm má qualidade, o que prejudica o diagnóstico precoce do câncer.
O sistema, montado em parceria com o CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e com o apoio do Instituto Avon, vai interligar todos os serviços que fazem mamografia no país, padronizando as condutas e as metodologias.
Segundo Luiz Antônio Santini, diretor-geral do Inca, todos os laudos serão emitidos dentro dos critérios do CBR. "Sem dúvida, isso vai melhorar muito a qualidade dos exames e o diagnóstico precoce."
A melhoria das mamografias, porém, é apenas a ponta do iceberg. Um estudo do Gbecam (Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama), divulgado no sábado, mostrou que o tratamento do câncer de mama no SUS está aquém daquele oferecido pela rede privada.
O levantamento, com 4.912 mulheres com câncer de mama tratadas em 28 hospitais públicos e privados, revelou, por exemplo, que 36% das mulheres do SUS descobrem o tumor em estágio avançado, contra 16% nos serviços privados, e que, no SUS, usa-se menos antraciclinas e taxanos (drogas que aumentam as taxas de sobrevida) em relação aos privados: 13,8%, contra 23,5%.
Na rede pública, a utilização de terapias biológicas no tratamento do tumor também é mínima -56% nos privados, contra 5,6% no SUS. Hoje, sabe-se que o uso de determinados anticorpos em pacientes com tipo de câncer de mama agressivo (chamado HER2 positivo) diminui em 50% a probabilidade de recidiva do tumor.
Para Santini, do ponto de vista científico, os dados da pesquisa não são conclusivos, estão sujeitos a vieses e precisam ser confirmados por outros estudos. "Os dados são importantes, mas não representam uma verdade absoluta."
Segundo ele, o Inca está avaliando, dentro de um protocolo de estudo, a relação custo-benefício de incorporar as terapias biológicas no tratamento de pacientes com o HER2 positivo. "É um tumor que afeta uma pequena parcela de mulheres [20% das que têm câncer de mama], mas que o tratamento é caríssimo. Para nós, representa hoje o quarto maior custo com medicamentos."
Santini diz que o Brasil também participará de um estudo financiado pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA que avaliará novas terapias para tumores em estágio avançado.
De: CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
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