sexta-feira, 27 de março de 2009

Infartado atendido pelo SUS morre mais após a alta

Pacientes que sofreram infarto e têm acompanhamento de saúde feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) têm 36% mais chances de morrer do que aqueles que são acompanhados por médicos particulares ou de convênios. A constatação é de um estudo inédito realizado pelo InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo, que foi publicado em dezembro nos "Arquivos Brasileiros de Cardiologia".

Trata-se do primeiro estudo brasileiro a mostrar que, após o atendimento de emergência e a alta, os índices de morte em pacientes infartados atendidos no sistema público são maiores.

Os pesquisadores acompanharam 1.588 pacientes (1.003 do SUS e 585 de convênios ou particulares) após a alta durante sete anos e meio. A taxa de mortalidade no período de internação foi semelhante nos dois grupos (cerca de 11%), mas o prognóstico foi pior em pacientes do SUS.

Os pacientes foram acompanhados através de telefonemas. A cada contato, os pesquisadores perguntavam se o doente tinha feito uma consulta médica nos últimos seis meses e se tinha medido o colesterol.

A pesquisa aponta que 91,3% dos pacientes atendidos por convênio ou particular no InCor tinham passado por uma consulta nos seis meses anteriores contra 86,1% daqueles atendidos pelo SUS. Além disso, 90,1% dos pacientes de convênio ou particular haviam medido o colesterol no mesmo período, contra 79,9% dos atendidos pelo SUS.

Segundo o cardiologista José Carlos Nicolau, autor do estudo e diretor da Unidade Clínica de Coronariopatia Aguda do InCor, a pesquisa foi feita para chamar a atenção para o atendimento prestado à população que depende do SUS. "Será que está sendo feito tudo o que é necessário?", questiona.

Hipóteses

Nicolau diz que a pesquisa não investigou as causas das mortes, mas aponta quatro hipóteses para os resultados: acompanhamento inadequado pela rede básica de saúde, falta de acesso a medicamentos, alimentação inadequada e falta de adesão ao tratamento.

"O que a gente constatou é que a sobrevida no SUS é menor após a alta hospitalar, quando essas pessoas devem ser acompanhadas em suas cidades", diz Nicolau.

Para o cardiologista Ari Timerman, presidente da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), o estudo traz uma relação entre a situação financeira do paciente e o acompanhamento que ele recebe, mas também mostra que o serviço prestado pelo SUS é eficiente na fase de internação. "A gente costuma criticar, mas a mortalidade na fase hospitalar é igual nos dois grupos", diz.

Segundo Timerman, os dados confirmam a relação entre a condição econômica e o acesso à saúde. "Isso vale para remédios, consultas e alimentação adequada", avalia o médico.

O cardiologista José Marconi Almeida de Sousa, chefe do Ambulatório da Mulher Cardiopata da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) diz que os resultados apontam para duas situações importantes. "Ou o atendimento no SUS não está totalmente adequado ou o paciente não está tendo acesso aos medicamentos e aos especialistas da área", diz.

O Ministério da Saúde foi procurado, mas não comentou a pesquisa.

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