quarta-feira, 11 de março de 2009

Número de pacientes em diálise sobe 84% em 8 anos.

De 2000 a 2008, o número de pacientes que fazem diálise no Brasil cresceu 84%. Os dados, de um censo feito pela SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia) com metade das 684 unidades de nefrologia do país, refletem o aumento no número de casos de doença renal crônica, decorrentes, especialmente, da maior incidência de hipertensão e diabetes.

Quando não controlados, os dois problemas danificam os vasos sanguíneos, o que é especialmente prejudicial no caso do rim, órgão filtrador.

Segundo o estudo, 87 mil pessoas fizeram o procedimento em 2008, enquanto em 2000 eram 42,7 mil. Em 35,8% dos casos, o que levou à insuficiência renal foi a hipertensão. O diabetes está em segundo lugar, com 25,7% dos casos. A glomerulonefrite (inflamação em certas estruturas renais), que já foi a principal responsável por doenças renais crônicas, aparece com 15,7%.

"Estamos ficando com um perfil semelhante ao de primeiro mundo. Devido aos hábitos de vida, as pessoas estão engordando mais e tendo esses problemas. Vivemos uma verdadeira epidemia de doença renal crônica", diz Gianna Mastroianni, nefrologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do comitê de prevenção de doenças renais da SBN.

Segundo ela, o maior acesso à diálise e ao diagnóstico de doença renal contribui para o aumento revelado pela pesquisa, mas é um fator minoritário.

Apesar do aumento no número de pacientes em diálise, muitos serviços estão sobrecarregados, o que obriga os pacientes a fazerem o procedimento longe do local onde moram ou até de madrugada.

Diagnóstico precoce

O nefrologista Emmanuel Burdmann, presidente da SBN, afirma que a detecção da doença vem aumentando ao longo dos anos, mas que o subdiagnóstico ainda é grande.

Apesar de a identificação ser feita por meio de dois exames simples --um de urina e outro que mede uma proteína chamada creatinina no sangue--, a estimativa é que haja de duas a três vezes mais casos do que os já identificados.

Amanhã, Dia Mundial do Rim, a SBN começará uma campanha nacional para incentivar o diagnóstico precoce e evitar que o paciente evolua até o último grau da doença renal crônica: a insuficiência renal, que leva à filtração por meio de diálise e ao transplante de rim. Quando identificada no início, a doença pode ser revertida.

Um dos complicadores é que o problema demora a se manifestar. "A doença renal é silenciosa, sorrateira. Quando começa a dar sinais, há pouco a ser feito", diz Burdmann. Espuma na urina, inchaço, anemia e vômitos são alguns sintomas.

Para Mastroianni, muitos médicos não incluem os exames de urina e creatinina nos check-ups porque a doença renal não era tão prevalente na época em que se formaram. "Não existe cultura de procurar doença renal no país."

A recomendação é que os exames sejam feitos principalmente por quem pertence a grupos de risco para a doença --hipertensos, diabéticos e pessoas com mais de 50 anos. Quem tem infecções urinárias de repetição também deve ficar mais atento.

"Os exames custam centavos e trazem uma relação custo-benefício gigante", diz Burdmann. O país gasta por ano R$ 2 bilhões com diálise e transplantes renais.

De: FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

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